09 junho, 2007

Criacionismo X Evolucionismo


Apesar da predominância de correntes evolucionistas nos meios acadêmicos, alguns cientistas tornaram-se notados por defenderem o criacionismo clássico, que envolve a crença num criador. Note-se, contudo, que a Ciência não pode tratar de assuntos de fé, mas apenas daquilo que é observável e passível de experimentação. Um cientista pode defender princípios religiosos ou ideológicos, mas esses princípios religiosos ou ideológicos não passam a ser científicos por serem defendidos por um cientista. Os argumentos de pessoas pertencentes a comunidade científica em favor do criacionismo apontam para a organização e exactidão das leis naturais. Esta visão dá uma imagem que se parece com aquela proposta por Isaac Newton, ao comparar o mundo a um mecanismo que evidencia um projecto inteligente e sobrenatural. As novas tendências científicas têm, contudo, levado a uma diferente visão do universo, menos determinista e mecanicista. É comum dar como exemplo a distância propícia entre o Sol e a Terra, que permite temperaturas amenas que possibilitam a continuidade da vida - é interessante verificar que este mesmo argumento é utilizado pelos evolucionistas para referir o carácter excepcional da posição da Terra, não para uma suposta "continuidade" (palavra que implica a ideia de um projecto ou um plano para a Criação), mas para a sua emergência e evolução.
Indivíduos teístas, que aceitam as hipóteses científicas podem ver nas características e regularidades da natureza (como a regularidade verificada nos elementos químicos na tabela periódica ou o facto de os acontecimentos físicos obedecerem a leis que podem ser expressas em equações matemáticas "exactas"), base para se pressupor uma ordem, são citados e interpretados como prova da existência de um legislador que legisla e faz cumprir essas leis. Por essas mesmas leis, o universo teria vindo a existir, e teria se desenrolado sua história, sendo parte dela a origem e a evolução da vida na Terra. Criacionistas, no entanto, não acreditam que o universo e suas partes tenham sido criados segundo essas leis, mas que tudo foi criado do nada (ou "ex nihilo", termo em latim mais sofisticado) e só então essas leis passaram a vigorar.
A complexidade e organização estrutural das formas mais simples de matéria viva são apontadas pelos criacionistas como prova de uma criação determinada e não a consequência evolutiva de um caldo orgânico primordial desorganizado. De facto, a probabilidade matemática de que a vida tenha surgido espontaneamente de uma sucessão de eventos casuais numa ordem específica é considerada por alguns matemáticos pequena demais. No entanto, é precipitado e inválido falar-se em probabilidades sem estar se referindo a processos e mecanismos específicos de cada etapa até a origem da vida.
O método que permite recriar um organismo a partir de fragmentos do seu corpo (um dente fossilizado, por exemplo) é duramente criticado pelos criacionistas que consideram abusivas as conclusões como a apresentação de antepassados do Homo sapiens com traços simiescos. No entanto o mais célebre alardeador dessa possibilidade foi o criacionista Richard Owen, que embasava essas deduções no conceito de homologia por ele proposto, mas que via não como indício de ancestralidade comum, mas de projeto para mesma função.
Fraudes nos trabalhos e pesquisas envolvendo fósseis (como o 'Homem de Orce', ou o 'Homem de Piltdown') têm sido também usadas para desacreditar a teoria da evolução. É importante lembrar, no entanto, que essas fraudes não foram feitas com o intuito de tentar sustentar "o evolucionismo", mas por motivos de ascensão pessoal, seja profissional ou financeira, e são sempre desmascaradas pelos próprios evolucionistas.
Alguns criacionistas questionam também experiências, relacionadas à demonstração da seleção natural, como aquela relativa às mariposas cujas cores foram influenciadas pelas mudanças advindas da Revolução Industrial. Nesse caso especificamente, apontam falhas irrisórias na metodologia como confirmação de que não existiria seleção natural (apesar desse não ser o único exemplo bem relatado de seleção natural). Isso implica na defesa de espécies absolutamente fixas, como um ideal platônico, o que não é aceito até mesmo pela maioria dos criacionistas hoje em dia, que abandonaram o fixismo clássico, aceitando seleção natural e até mesmo um grande número de especiações, apesar de manterem a crença nas criações especiais.
Um dos principais argumentos dos criacionistas baseia-se na refutação da geração espontânea. Louis Pasteur e John Tyndall demonstraram experimentalmente que micróbios não se originam espontaneamente, conforme alguns supunham ser possível, ao final do século XIX. Estendendo os resultados destes experimentos, argumenta-se que foi provado que nenhum mecanismo pode gerar vida de qualquer matéria sem vida. Como evidência, aponta-se que nenhum experimento foi capaz de demonstrar o contrário, a despeito de várias décadas de tentativas. Ironicamente, a vida surgindo da não vida é justamente o que os criacionistas defendem como tendo ocorrido em muitos casos, mas em um salto abrupto de complexidade, em um hipotético período em que ainda não existiriam as leis naturais hoje conhecidas.
A afirmação de que nenhuma vida pode surgir de não-vida foi recentemente desafiada a partir de experimentos onde um vírus é sintetizado em laboratório, mas a questão de se um vírus pode ou não ser considerado um ser vivo nunca foi um consenso entre cientistas. Outra questão levantada pelos criacionistas é que esse tipo de experimento na verdade comprovaria a necessidade de uma inteligência e intencionalidade por trás do processo. No entanto, é imprescindível lembrar-se que experimentos laboratoriais são fundamentalmente diferentes de processos de simples montagem intencional, pois na realidade visam reproduzir as situações em que um fenômeno ocorreria naturalmente, espontaneamente.
Toda a argumentação criacionista quanto ao desconhecimento sobre como a vida teria se originado naturalmente, não raramente tenta levar a crer que, sem essa resposta, todas as demais áreas da ciência às quais se opõem, em especial a evolução biológica, desmoronam como conseqüência. Essa é uma falácia non sequitur - a conclusão não decorre das premissas - pois as evidências das diversas áreas que compõem o evolucionismo, não são totalmente dependentes umas das outras, e dessa forma, é possível ainda se estabelecer os laços de parentesco entre todos os organismos, mesmo sem saber de onde teria vindo o ancestral comum de todos eles.

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